Forró e tradição marcam os preparativos para o São João no Centro de Fortaleza
Comidas típicas, itens decorativos e roupas temáticas são os itens mais procurados nesta época do ano
“O São João é símbolo da nossa identidade cultural”, explicava o turismólogo Gerson Galdino às crianças durante uma excursão escolar no Mercado Central, em Fortaleza.
Ao lado, um casal de músicos embalava o grupo ao som de Luiz Gonzaga, enquanto o aroma do milho assado anunciava aos visitantes a chegada dos festejos juninos na cidade.
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Nas ruas da Capital, fogueiras de celofane, balões coloridos e roupas temáticas enfeitam as vitrines, atraindo consumidores que desejam manter viva a tradição das celebrações desta época do ano.
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Sem deixar escapar o sorriso do rosto e o chapéu de palha da cabeça, a vendedora Valdenia Bandeira, 38, garante que o São João costuma ser a melhor época do ano para os comerciantes da cidade.
“O que sai para caramba, que bomba, são as bandeirinhas. Logo depois vêm os balões, vêm espantalhos. Eu acho que é bem decorativo, mas o carro-chefe mesmo são as bandeirinhas”, explica.
Para além do estoque temático, a musicalidade também é um diferencial dos festejos juninos.
“A gente sempre bota uma musiquinha bem animada para os clientes, sendo que a gente entra no embalo. O colorido encanta qualquer um, principalmente crianças; e a gente, adulto, gosta. E o florido vai dar animação ao povo, né? Querendo ou não, se tá no forrozinho, a pessoa já se quebra todinha, já gosta”, confessa.
No Mercado Central, Sônia Brasileiro toca o Restaurante Central há mais de 20 anos e destaca que, nesta época do ano, os clientes costumam procurar ainda mais os sabores das comidas regionais cearenses.
Com um cardápio tipicamente nordestino, incluindo receitas como buchada, ada e cavala frita, a comerciante ressalta que, nesta época do ano, sempre costuma incrementar o menu com receitas de milho e mudar a decoração do restaurante.
“Quando se fala de festa junina, você já se lembra do cuscuz, já lembra do milho, da pamonha, da canjica e do baião com vatapá, né? É um celeiro de memórias”, explica.
Entre os corredores do mercado, o quadriculado salta aos olhos dos visitantes. Misturado se vê o fardamento da consultora de vendas Elita Galdino, 60.
De sandálias a roupas, as obras do artesão cearense Espedito Seleiro são as mais procuradas por seus clientes nesta época do ano.
“O São João, não só para mim, mas eu acho que para o Nordeste todo, ele representa festa, alegria. É uma das festas mais esperadas para o Nordeste. Traz um significado, relembra as nossas raízes, trazendo as nossas tradições”, declara.
São João: na capital cearense, turistas se reúnem para fazer compras
Natural de São Paulo, a professora universitária aposentada, Rina D’Angelo, 70, aproveitou o dia na popular rua Castro e Silva, no Centro de Fortaleza, para comprar chapéus de palha para o filho, o marido e o genro. “É uma festa de tradição e que a gente tem que conservar as tradições, porque não existe galho sem raízes”, garante.
Relembrando as quadrilhas da época da escola, em que dentes pintados, pintinhas na bochecha e tranças no cabelo faziam parte do visual, ela declara que a paixão pelo São João tomou conta da família, assim como o amor pelo Nordeste. Para ela, “essa é uma festa que celebra o campo, celebra tudo de bom. Então, eu acho que não é só importante para o Nordeste, mas para o Brasil inteiro”, destaca.
O engenheiro de produção Emerson Fernandes, 30, veio da cidade de Independência, a 306 km de Fortaleza, em busca de decorações para a festa de São João da família. “É um momento de confraternizar e de brincar principalmente”, conta. Para ele, os festejos juninos remetem a uma infância regada a brincadeiras, comidas típicas e quadrilha.
O casal de empresários Sara Lima, 27, e Anailson Araújo, 41, veio de Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), para reabastecer o estoque de produtos e comprar alguns itens decorativos de São João, visando enfeitar suas lojas de roupas. Para eles, além dos adereços, “milho, pamonha e outras comidas típicas” também fazem a diferença e não podem faltar durante o mês de junho, seja no interior ou na Capital.
Rememorando histórias marcantes, Anailson garante que tenta cativar os filhos e sobrinhos a manterem vivos as tradições, especialmente as brincadeiras com a fogueira “Queimar bombril, aquelas brincadeiras lá de criança, que é da cultura, né? Os filhos vão mantendo a cultura, a gente vai vendo e vai lembrando da infância”, conta saudosista.
São João: a valorização da identidade cultural do povo nordestino
Para o turismólogo Gerson Galdino, falar do São João para as novas gerações é um exercício de cidadania, de valorização da identidade cultural e também de educação patrimonial. “No São João, o clima fica mais festivo. Aqui no Mercado Central, você vai ver toda decoração, a cidade se prepara para isso”, celebra.
O profissional destaca ainda que “o Ceará é o maior, é o que tem o maior celeiro de forrozeiros do Brasil hoje. Acho que o forró é um símbolo do nosso São João do Ceará. É um símbolo, sim. É um símbolo da nossa identidade cultural, porque agrega valores da culinária e de parte do folclore em si”.
De acordo com ele, o Estado tem potencial para valorizar ainda mais os festejos juninos e ter o maior São João do mundo. “Nós estamos reverenciando toda a produção que vem do interior do Estado, o milho, o caju, que já iniciaram a safra. E tudo que for derivado da cana-de-açúcar e outros. É uma reverência importante falar do São João”, afirma orgulhoso.